8 de março
Dia Internacional da Mulher

por Tássita de Assis Moreira

 

FORÇA E SUTILEZA NAS PALAVRAS DAS MULHERES GUERREIRAS: a autoria das mulheres indígenas

Caneta na mão, cocar na cabeça e pés no chão. Atualmente é fundamental buscar, conhecer e compreender autoras contemporâneas quando falamos sobre literatura indígena, especialmente no que diz respeito a desfazer estereótipos e equívocos sobre as histórias e culturas indígenas. Em muitos momentos notamos que a escrita da mulher indígena não é individual, é coletiva e, exatamente por isso, também é singular. A trajetória das mulheres guerreiras escritoras apresenta histórias marcantes, como a publicação do primeiro livro de Eliane Potiguara, em 1989, intitulado “A terra é a mãe do índio”, premiado pelo Pen Club da Inglaterra e traduzido para o inglês. Em 2005, o sonho de voar junto aos pássaros resultou no livro “A Índia Voadora”, de Kerexu Mirim, após uma experiência inesquecível viajando de helicóptero por São Paulo. Kerexu é filha do escritor Olívio Jekupé e, na ocasião, foi a primeira menina indígena autora, com seus 9 anos de idade. A professora e escritora Graça Graúna publicou sua tese em 2013, falando sobre teoria e literatura no formato do livro “Contrapontos da literatura indígena contemporânea no Brasil”, demonstrando que além da escrita literária, as mulheres indígenas encontram espaço na escrita acadêmica. Em 2015, Aline Pachamama publicou “Pachamama: a poesia é a alma de quem escreve”, seu primeiro livro na própria editora que idealizou para publicações de autoria indígena, a Pachamama Editora. O ano de 2018 foi um ano frutífero para as publicações de mulheres indígenas. Entre elas, a cordelista Auritha Tabajara publicou “Coração na aldeia, pés no mundo”, a primeira obra de autoria indígena em literatura de cordel.

 

Destacamos uma “linha do tempo” com um histórico de publicações feitas por mulheres indígenas nas últimas décadas, no Brasil, com base nas informações disponíveis na Bibliografia das Publicações Indígenas do Brasil.

 

Autoria feminina indígena no Brasil
Ano Referência
1989 POTIGUARA, Eliane. A terra é a mãe do índio. Rio de Janeiro: GRUMIM, 1989. 70 p.
1994 POTIGUARA, Eliane. Akajutibiró: terra do índio potiguara. [S.l.]: Unesco, 1994.
2002 VERÍSSIMO, Lídia Krexu Rete. Varai para’i regua= O balaio enfeitado. Laranjeiras do Sul, PR: Nhombo’ea Guarani, 2002. 34 p.
2004 KATY, Sulamy. Meu lugar no mundo. Participação de Heloísa Prieto e Daniel Munduruku; Ilustrações Fernando Vilela. São Paulo: Ática, 2004. 56p. ISBN 8508091524.
2004 KRENAK, Shirley Djukurnã. A onça protetora: borum huá kuparak. Ilustrações Geovani Tám Krenak. São Paulo: Paulinas, 2004. 39 p. (O universo indígena; v. 3). ISBN 9788535613155.
2005 MIRIM, Kerexu. A índia voadora. São Paulo: [s.n.], 2005.
2010 GRAÚNA, Graça. Criaturas de Ñanderu. Ilustrações de José Carlos Lollo. São Paulo: Amarilys, 2010. ISBN 9788520430576.
2010 KAINGÁNG, Vãngri; NEGRO, Mauricio. Jóty, o tamanduá. Ilustrações dos autores. São Paulo: Global, 2010. 32 p. (Coleção Muiraquitãs). ISBN 9788526014954.
2011 JEKUPÉ, Olivio; KEREXU, Maria. A mulher que virou Urutau. Ilustrado por Taisa Borges. São Paulo: Panda Books, 2011. ISBN 857888146X.
2011 MINAPOTY, Lia; YAMÃ, Yaguarê. A árvore de carne e outros contos. Ilustrações Mariana Newlands. São Paulo: Tordesilhinhas, 2011. ISBN 8564406330.
2011 MINAPOTY, Lia. Com a noite veio o sono. Ilustrações Mauricio Negro. São Paulo: Leya, 2011. ISBN 9788580441147.
2012 POTIGUARA, Eliane. O coco que guardava a noite. Ilustrações Suryara Bernardi. São Paulo: Mundo Mirim, 2012. ISBN 9788561730833.
2013 GRAÚNA, Graça. Contrapontos da literatura indígena contemporânea. São Paulo: Mazza, 2013. 200 p. ISBN 9788571605916.
2013 MURA, Márcia [Márcia Nunes Maciel]. O espaço lembrado: experiências de vida em seringais da Amazônia. Amazonas: EDUA, 2013. 205 p. ISBN 9788574016511
2014 CRUZ, Denízia. Kariri Xocó: contos indígenas. Ilustrações Caco Bressane. São Paulo: Ed. SESC, 2014.
2014 GRAÚNA, Graça. Flor da mata. São Paulo: Peninha Ed., 2014. ISBN 9788567265087.
2014 MINAPOTY, Lia. Lua menina e Menino onça. Ilustrações Suryara Bernardi. Belo Horizonte: RHJ Livros, 2014. 32 p. ISBN 9788571533363.
2014 MINAPOTY, Lia. Tainãly: uma menina Maraguá = Tainãly: yepé tainãê Maraguá. Ilustrações Laurabeatriz. Curitiba: Positivo, 2014. 24 p. ISBN 9788538584612.
2014 POTIGUARA, Eliane. O pássaro encantado. Ilustrações Aline Abreu. São Paulo: Jujuba, 2014. ISBN 9788561695538.
2015 PACHAMAMA, Aline Rochedo. Pachamama: a poesia é a alma de quem escreve. Rio de Janeiro: Pachamama, 2015. ISBN 9788556340009.
2015 POTIGUARA, Eliane. A cura da Terra. Ilustrações Soud. São Paulo: Ed.do Brasil, 2015. ISBN 9788510058018.
2015 TERENA, Niara. Amor essencial. Mato Grosso: Editora Sustentável, 2015. ISBN 9788567770062.
2016 KAINGÁNG, Vãngri. Estrela Kaingang: a lenda do primeiro pajé. Ilustrações Catarina Bessel. São Paulo: Biruta, 2016. ISBN 9788578481438.
2017 VIEIRA, Fernanda. Crônicas ordinárias. Rio de Janeiro: Macabéa, 2017. 94 p. ISBN 9788593637070
2018 KAMBEBA, Márcia. Ay Kakyri Tama: eu moro na cidade. São Paulo: Pólen, 2018. ISBN 9788598349633.
2018 KAMBEBA, Márcia. O lugar do saber. São Leopoldo, RS: Casa Leiria, 2018. 64 p. ISBN 9788595090293.
2018 MINAPOTY, Lia. YAGUAKÃG, Elias. Yara é vida. Ilustrações Osvaldo Piva. São Paulo: Kazuá, 2018. 32 p. ISBN 9788566179613.
2018 PACHAMAMA, Aline Rochedo. Guerreiras = M’baima miliguapy: mulheres indígenas na cidade, Mulheres indígenas na aldeia. Rio de Janeiro: Pachamama, 2018. ISBN 9788556340191.
2018 POTIGUARA, Eliane. Metade cara, metade máscara. São Paulo: Uka Editorial, 2018. ISBN 9788564045088.
2018 TABAJARA, Auritha. Coração na aldeia, pés no mundo. Xilogravuras de Regina Drozina. São Paulo. Uka Editorial, 2018.
2018
TERENA, Niara. As aventuras de Angelina e o Bruxo do sofrimento: o tempo em que a terra pousou na escuridão. Ilustrações Paty Woff. Mato Grosso: Sustentável, 2018. ISBN 9788567770222.
2019 CRUZ, Denízia. Kariri Xocó: contos indígenas, volume 2. Ilustrações Caco Bressane. São Paulo: Ed. SESC, 2019. 62 p. ISBN 9788579952265.
2019 DORRICO, Julie. Eu sou macuxi e outras histórias. Nova Lima, MG: Caos & Letras, 2019. 108 p. ISBN 9786580804030.
2019 PACHAMAMA, Aline Rochedo. Taynôh: o menino que tinha cem anos. 2. ed. Rio de Janeiro: Pachamama, 2019. ISBN 9788556340245.
2019 PANKARÁ, Chirley Maria. Nãna e os potes de barro. Ilustrações Carolina Mancini. [S.l.: s.n.], 2019.
2019 TREMEMBÉ, Telma Pacheco Tamba. Raízes do meu ser: meu passado presente indígena. Fortaleza: Caixeiro Viajante de Leitura, 2019. ISBN 9788583140894.
2020 KAMBEBA, Márcia. Saberes da floresta. São Paulo: Polen, 2020.
2020 PACHAMAMA, Aline Rochedo. Boacé Uchô: a histórias está na terra. Rio de Janeiro: Pachamama, 2020.118 p. ISBN 9788556340276.
2021 KAMBEBA, Márcia. O lugar do saber ancestral.São Paulo: Uk’a Editorial, 2021. 142 p. ISBN 9786599128219.

 

As palavras, frases e prosas carregam a força e a voz da floresta, dos encantados, dos antepassados, expressando no “papel” o pertencimento ao território como extensão do próprio corpo. Mais do que livros e textos, são símbolos de resistência, luta e coragem.

 

Sentiu falta de outras escritoras indígenas? Comente aqui e vamos fazer essa lista se tornar cada vez maior pela força e sutileza das palavras das mulheres guerreiras!

 

 

Tássita de Assis Moreira é Historiadora e professora, cursando mestrado em Educação na Universidade Federal de Uberlândia (FACED/UFU). Desenvolve estudos sobre pedagogia decolonial e ensino da temática indígena.